(policiais civis forçando a porta da Ocupação Manuel Congo, sem mandado, um deles portando um fuzil - dia 9/1/2013,10h54 - obs.: câmera sem horário de verão)
O MNLM Brasil organiza na luta as vítimas da
negação do direito a cidade, a terra e a moradia digna no Brasil há mais de
duas décadas;
Construiu junto a outras organizações e
movimentos a plataforma da Reforma Urbana no Brasil, lutando pela Gestão
Democrática e pela desmercantilização de bens e serviços essenciais a
reprodução e desenvolvimento pleno da vida nas cidades.
A luta pelo cumprimento constitucional da
Função Social da propriedade e pelo Direito Social a Moradia, especialmente das
camadas de nenhuma ou pouca renda da classe trabalhadora, tem ensejado
retaliações por parte daqueles cuja missão é guardar e desenvolver a acumulação
e a espoliação.
Aqui, um breve relato do esforço dos que se
apresentam como “autoridade legal” em desmoralizar e criminalizar a luta e a
organização daqueles que consideram bandidos pela sua condição econômica e cor
da pele:
A Ocupação Manuel Congo/MNLM Brasil, enquanto
aguarda as obras de reforma e posterior Regularização Fundiária, desenvolve o
maior desafio da cidadania ativa que é manter a organização interna dentro dos
valores da solidariedade, da co-responsabilidade e da participação coletiva;
As famílias que nela vivem, obedecem a critérios
de seleção e permanência que datam da Carta de Princípios construída
coletivamente antes da Ocupação, há 06 anos, realizada e mantida coletivamente;
Seus integrantes são reconhecidos em cadastro do
MNLM e nas assembleias da Comunidade e apresentados ao Instituto de Terras e
Cartografia do Estado do Rio de janeiro; tem que morar efetivamente e ter na
ocupação sua única moradia/imóvel; Sua renda não pode ultrapassar 3 salários
mínimos e é obrigatório o compromisso com as regras de participação e
convivência comunitária; Seus pequenos e cotidianos conflitos são resolvidos
por coordenação eleita e pela Assembleia; Em suas dependências não circulam
estranhos e sua segurança e manutenção é realizada pelos moradores maiores de
18 anos em escala de 2 horas e meia por semana cada um. O não enquadramento nos
critérios de seleção e permanência são resolvidos pela Coordenação, como rotina
pré-acordada.
Esta comunidade foi surpreendida no dia 09 de
janeiro de 2013, quarta-feira, por volta das 10h52, com a chegada truculenta de
uma viatura da polícia civil, com 03 policiais, um dos quais portando fuzil.
Forçaram através de ameaças e empurrões a abertura do portão, em cujo plantão
encontrava-se o morador Diego. Aos gritos, o policial que não
disse o nome, e mais tarde na 5ª DP, foi identificado, anunciou que estava fundamentado no registro de
ocorrência do rapaz, que identificamos como sendo o
neto de uma moradora que se encontrava de mudança da Ocupação por possuir outra
moradia, conforme assumido e acordada por ela junto à Coordenação.
Vale destacar que o jovem não reside no
prédio e sim sua avó e seu esposo. O jovem é
visitante, sendo um neto que a própria mãe não se responsabiliza
e já declarou a quem possa interessar que se trata de um rapaz problemático,
que ela não quer que ele tenha sequer seu endereço para que não venha a
perturbá-la. Durante o ultimo ano ele intensificou sua visitação a casa da
avó.
Como é de conhecimento de todos, o rapaz reside em
moradia de sua propriedade. Em outras oportunidades em que ele esteve
hospedado na casa da avó, ocorreram vários episódios de confusão e intimidação,
como sua constante afirmação de que seria 3º sargento do exército, andando
fardado pela ocupação, bem como os gritos durante a madrugada e encenações de
incorporação de demônios.
Perguntados sobre a razão da presença policial e
a ausência de qualquer tipo de mandado que os traziam ao prédio, a resposta dos
policiais foi que:
"se tratava de um flagrante e que não
precisavam de documento nenhum, aos berros diziam que queríamos ensinar o
trabalho deles a eles, que não tinham que explicar nada, que sabiam que aqui
tinha tráfico e milícia, que calássemos a boca e parássemos de fazer perguntas
senão todos seriam presos. Ao tentarmos, de maneira calma e em tom de voz
normal, esclarecimentos sobre a presença deles para que pudéssemos entender e
dar algum tipo de resposta aos policiais, eles se irritavam e não permitiam que
acompanhássemos a subida e a entrada em apartamentos do prédio, a cada
tentativa dos moradores em argumentar ou pedir informações os gritos e ameaças
aumentavam...”.
A própria avó do rapaz falou mais de uma vez aos policias que ele não era morador, que ela
estava se mudando por reconhecer que não se enquadrava nos critérios, que por
livre e espontânea vontade havia pedido ajuda a outros moradores do prédio para
descer com alguns pertences que ela levaria para sua residência e outros estava
jogando no lixo, os moradores num ato de solidariedade com a senhora, estavam
carregando os objetos e caixas para que ela não fizesse grandes esforços.”.
Os policiais ignoraram a fala da própria avó, que segunda as poucas informações prestadas pelos mesmos, se tratava da
"vitima", e quando ela se pronunciava dizendo que não estava se
sentindo prejudicada e que havia solicitado a ajuda de outros dois moradores
para descer com seus pertences, os policiais simplesmente ignoravam e
continuavam insistindo que estavam ali para protegê-la.
Vários moradores e coordenadores tentaram
entender o que ocorria e se calavam amedrontados pelas ameaças, porém a
coordenadora estadual do MNLM, ELISETE NAPOLEAO presente ao fato continuou
insistindo na sua presença ao lado do policial que a todo tempo a mandava calar
a boca sob ameaça de prisão, especialmente quando o mesmo ameaçou arrombar a
porta de Maria de Lourdes, coordenadora nacional do MNLM, que não estava no município
do RJ naquele momento.
Os policiais ordenavam que entregássemos os
documentos e cadastro de todos e diversas vezes falaram: "Vão lá no
arquivo de vocês, já mandei, tragam documento de todos, fichas, de todos,
especialmente da Maria de Lourdes..." porém sem qualquer mandado e sem
prestar qualquer esclarecimento para qual fim estava sendo ordenado, e os
coordenadores diziam que como não havia um pedido formal por parte da força
policial e nem compreensão efetiva do que se tratava, que preferíamos nos
dirigir a 5ª DP para que lá as providências e solicitações fossem feitas
formalmente.
A conduta dos policiais em flagrante abuso de autoridade, conduta
discriminatória, caluniosa e difamatória persistiu na delegacia. O mesmo colheu
os depoimentos sem qualquer parcialidade. Durante o depoimento da avó do rapaz, o
inspetor falava mais que ela, praticamente depondo em seu lugar e claramente
tentando manipular a versão dos fatos. Quando ela dizia que o jovem que causou o transtorno não era
morador, o inspetor não anotava, tratando-a como uma vítima incapaz de
discernimento próprio. Além disso, o mesmo desrespeitou reiteradamente a
advogada e militante do movimento, Clara Silveira, que acompanhava o depoimento,
afirmando que a mesma não conhecia a lei civil, que a mesma estaria tentando
tirar proveito dos pobres e questionando, por diversas vezes, sua competência
profissional.
No momento de colher o depoimento da coordenadora
estadual do MNLM, o policial não fazia nenhuma pergunta, se limitando a olhar com
reprovação para Elisete e a criticar o crime que ela supostamente teria
cometido. Após ser pressionado a colher o depoimento pela advogada, o mesmo
somente disse: "a senhora sabe que tem o direito de ficar em silêncio,
né?". Como Elisete insistiu em narrar os fatos, o mesmo levantou a
voz, dizendo que estava sendo desrespeitado, foi quando ele afirmou que a “cara
feia dela, não lhe intimidava”, vale destacar o tom completamente
preconceituoso e discriminatório, pois a coordenadora em questão é uma mulher
negra e claramente foi tratada com racismo por parte do policial. Além
disso, ameaçou três vezes de levá-la presa, caso mantivesse "a cara
feia" de seu marido próximo dele. Por fim, colheu o depoimento com afirmações
que não haviam sido feitas e se recusava a modificá-lo, mesmo sob insistência
da advogada.
Na delegacia, tentaram impor à comunidade
organizada o rapaz causador do conflito como morador, e incitaram a avó dele, que já estava de mudança, a não sair e procurar a defensoria pública
pois segundo eles, esta já possuía direito a posse. Gritaram que ninguém tirará
ninguém daquele lugar – Ocupação Manuel Congo – postura que seria muito bem
vinda por parte da polícia quando toda a comunidade sofria ameaça de despejo
pela ação de Reintegração de Posse movida pelo INSS que perdurou dois anos, mas
inadmissível neste momento em que a comunidade luta para consolidar critérios
de justiça no que tange ao direito a moradia e a cidadania.
O esforço da organização que o MNLM vem
empreendendo tem resultado prático na conquista da comunidade, que superou as
ameaças de despejo e aguarda a licitação das obras de reforma para os próximos
dias, assim como o reconhecimento de órgãos e empresas públicas tais como a
Petrobras e o Ministério das Cidades. As reflexões da prática nestes 05 anos da
ocupação Manuel Congo – Contrato de Financiamento PAC/FNHIS - tem
influído favoravelmente na construção de uma Política Nacional de Habitação de
Interesse Social, intervindo nos diversos ajustes do Programa MCMV e avançando
na destinação dos imóveis públicos abandonados para habitação de Interesse
Social no âmbito do Conselho Nacional das Cidades e Grupo de Trabalho Nacional
de Identificação de Imóveis públicos vazios dos quais o MNLM Brasil é parte e
fundador.
As razões alegadas para que a polícia
invadisse outras ocupações não tem encontrado respaldo no esforço cotidiano
desta comunidade, motivo pelo qual estamos incitados a pensar que a invasão e o
constrangimento é a meta da polícia, que além de criminalizar os pobres e o
movimento, pretende impor ao MNLM exatamente o que lutamos contra: a lógica da
mercantilização da moradia e a especulação imobiliária, o que não podemos
aceitar.
MORADIA NÃO É MERCADORIA, É NECESSIDADE BÁSICA
E DIREITO SOCIAL!
BASTA DE CRIMINALIZAÇÃO DA POBREZA E DOS
MOVIMENTOS SOCIAIS!
Ninguem será punido ??
ResponderExcluirVIVA O ABUSO E A CORRUPÇÃO DE NOSSAS " AUTORIDADES "
Viva, Afonso!
ResponderExcluirMas a gente há de subverter (veem como somos subversivos?) essa história a nosso favor...
Individualmente, precisamos ter a certeza de que não morreremos sem ver alguma justiça sendo feita em nome de grupos, organizações, movimentos de ordem coletiva.
Todo o meu carinho e a minha admiração ao Movimento Nacional de Luta pela Moradia.
Um fraterno abraço,
Detalhe: na noite do dia 10, foi realizado o II Sarau da Apafunk.
Vergonhoso e lastimável termos ditadores nas governanças de delegacias. Conhecemos bem os perfis dos ditos cujos, não entro em detalhes. Basta a 'alguns' de tal perfil uma pesquisa aguçada para detectar comportamentos que não são condizentes com um empregado de segurança pública ou com o poder que lhes é conferido. Solução? Eleição de candidatos de esquerda que removam certas figuras de posições que não lhes cabem de cima para baixo.
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